Ricardo Kondrat
Por: Hugo Kochenborger da Rosa
É no bairro do Tatuapé em São Paulo, que mora Ricardo Kondrat, 48, um dos maiores fãs da cantora Carmen Miranda (1909-1955). Além de garimpar e colecionar tudo que é objeto que diz respeito à carreira da artista conhecida como “Pequena Notável” (slogan criado para a cantora pelo locutor César Ladeira), Kondrat ajuda a cumprir um papel relevante na preservação da imagem da cantora, ao divulgar a vida e obra da artista sempre que possível. O colecionador afirma que é o mínimo que pode fazer por ela, já que Carmen fez tanto pelo nosso país. “Durante muito tempo e porque não dizer até hoje, continua sendo ela uma espécie de cartão-postal do Brasil, assim sendo, nada mais justo que retribuamos esse gesto dela, reverenciando seu nome”, justifica-se.
E é com o colecionador Ricardo Kondrat, que a seguir batemos um papo muito bacana.
Hugo - Ricardo, como você conheceu a obra de Carmen Miranda e como acabou tornando-se fã da cantora?
Ricardo Kondrat (RK) - Conheci a Carmen, por um filme de Jerry Lewis, rodado em 1953, em que Carmen aparecia como atriz convidada. Chamava-se “Morrendo de Medo”, e eu o assisti pela TV Bandeirantes em 1980, no intervalo das aulas que cursava na época na escola do SENAI. Aquela figura feminina exuberante imediatamente chamou-me muito a atenção, fiquei como que magnetizado e não conseguia mais tirá-la da cabeça. Na época eu nunca tinha ouvido falar da Carmen. Chegando em casa, perguntei à minha mãe daquela artista esfuziante, cheia de frutas e outros objetos levados à cabeça. Minha mãe que era da época da Carmen, me esclareceu que se tratava de Carmen Miranda, uma artista brasileira muito importante, infelizmente já falecida e tal.
Logo fui até o centro, aqui de São Paulo à cata de algum disco da Carmen. Recomendaram-me que procurasse a “Casa Lomuto”, especializada em discos antigos, e que lá com certeza eu encontraria alguma coisa da artista.
Então, comecei a freqüentar essa loja, onde não só consegui adquirir com o tempo vários discos da Carmen, como também conheci outros fãs , e assim começamos também a “trocar figurinhas”. Esse disco foi o começo de uma coleção que reuni com muito empenho e dedicação, e que hoje soma mais de 2.500 ítens entre discos, fotos, revistas, partituras de época e objetos variados.
Cena do filme "Morrendo de Medo" (1953)
Hugo - Quais dentre esses objetos você consideraria os mais raros e por quais você nutre maior carinho?
RK - Tenho um carinho muito grande pela coleção como um todo, mas para mim os itens mais especiais são alguns objetos que pertenceram à Carmen, e que me foram presentados devidamente certificados e autenticados pelos irmãos dela. Dois pares de tamancos tamanho 32 utilizados pela cantora na época em torno de 1940, 1942; uma bolsa que teria sido adquirida em uma viagem de Carmen à Buenos Aires em 1938 e uma foto autografada. Esses itens para mim possuem um valor inestimável!
Aline Serrano, a principal "cover" de Carmen Miranda na atualidade, em visita ao acervo de Ricardo Kondrat, calçando um par de tamancos que pertenceu a Carmen. |
Hugo - Quantos discos de 78 RPM de Carmen você tem aproximadamente? Quais seus sucessos favoritos da cantora?
RK - Na coleção, só de discos de 78 RPM de Carmen, possuo 104. Algumas de minhas canções favoritas da cantora são Ta-hi (Pra Você Gostar de Mim), (Victor, 1930), Alô, Alô (Gravada em dupla com Mário Reis, Victor, 1933), Isto é Lá com Santo Antônio, (Victor, 1934), Chegou a Hora da Fogueira, (Victor, 1933), Balancê, (Odeon, 1936), O que é que a Baiana Tem?, (Gravada em dupla com Dorival Caymmi, Odeon, 1938) e Cantores do Rádio (Odeon, 1936), onde na música ela e Aurora cantam “Cantoras do Rádio”. A curiosidade é que o título da música nos créditos do selo do disco aparece como “Cantores”, e não como “Cantoras do Rádio”.
Carmen e Aurora entoando "Cantores do Radio" no filme "Allo, Allo Carnaval" (1936)
A jovem Aurora Miranda no início de carreira. |
Carmen Miranda |
Hugo - E na parte filmográfica da Carmen, qual é o seu filme favorito, e por que?
RK- Com certeza prefiro “Uma noite No Rio” (That Night In Rio, 1941) e “Copacabana” (1947), porque ela está divina nos números musicais!!
Hugo - Alguma celebridade artístico-cultural já esteve visitando seu “santuário” da carreira de Carmen?
RK- Sim. Murilo Caldas (irmão do cantor Silvio Caldas). Por sinal, Murilo foi o primeiro a fazer dueto com Carmen em disco. Infelizmente o artista veio a falecer já em idade bastante avançada em 1999. Também recebi a simpática visita dos cantores markinhos Moura e Maria Alcina.
Imagem parcial do acervo de Kondrat |
Hugo - O que Carmen Miranda representou para a cultura brasileira, na sua opinião?
RK- Representou não!! Representa ainda!! Ela foi a primeira a divulgar nosso samba pelo mundo a fora . É a única mulher em pé de igualdade com o “Rei” Pelé, como uma espécie de “embaixatriz” de nossa cultura no exterior.
Hugo - Se Carmen aparecesse na sua frente, hoje, qual seria a primeira coisa que você diria a ela?
RK- Que tenho por ela a mesma afeição e amor que sinto por minha mãe.
Hugo - Você desfrutou muito da amizade de outra celebridade da família Miranda. A irmã mais nova de Carmen, Aurora, também cantora (1915-2005). Como vocês se conheceram?
RK- Tive muito contato com Aurora. Ela era muito meiga, carinhosa e atenciosa. Foi uma grande pessoa e que marcou muito minha vida. Não conheci somente a ela, mas também aos seus irmãos Amaro, Cecília e Oscar Miranda. Nosso primeiro encontro ocorreu em agosto de 1985, no Museu do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, e esse encontro representou o começo de uma grande amizade.
Ricardo Kondrat e Aurora Miranda, na época em que o colecionador iniciou a amizade com a familia Miranda, em 1985. |
Hugo - Aurora foi um grande nome feminino em número de discos gravados e sucessos nas paradas na década de 30. Além do sucesso no disco, chegou a estrelar filmes importantes como “Você Já Foi à Bahia”, (The Threes Caballeros) de Walt Disney (1944), onde contracenou em uma cena antológica com o Pato Donald, Panchito e Zé Carioca, interpretando a música de Ary Barroso “Os Quindins de Iaiá”. Aurora, que casara-se em 1940 com Gabriel Richaid e vinha morando desde então nos Estados Unidos, resolveu logo a seguir abandonar a carreira, retornando posteriormente ao Brasil. A partir daí, retomaria o lado artístico somente em situações pontuais para um ou outro disco e/ou apresentação , isso num espaço de décadas. O que a cantora comentava sobre sua própria carreira musical? Que motivos teve ela para abandoná-la?
RK- Com o casamento e o nascimento dos filhos, Gabriel (futuro dentista) e Maria Paula da Cunha Richaid (mais tarde psicoterapeuta), seu marido achou por bem que Aurora se dedicasse completamente à família, e Aurora concordou. Acabou optando por dedicar-se à sua família, e também a carreira de sua irmã, Carmen.
Aurora Miranda em cena do filme "Você já foi à Bahia"? (1944) ao lado de Panchito, Zé Carioca e Donald. |
Hugo - Um dos pontos altos na obra musical da Carmen, é justamente a canção “Cantores do Rádio”, de João de Barro, o Braguinha, que ela interpretou ao lado da irmã na película “Allo Allo Carnaval”, de 1936. Como fã, você acha elas poderiam ter levado essa parceria adiante, gravando juntas outras músicas?
RK - Sim, poderiam. Mas Aurora contava que era meio impossível cantar em dueto com a Carmen, por mais que ensaiassem, porque ela tinha uma “bossa diferente”. Por isso Aurora tinha que ficar de frente com a Carmen para cantar, senão ela se perdia.
Aurora, Donald, Zé Carioca e Panchito "Os Quindins de Iaiá"
Hugo - O que Aurora comentava sobre a música “Cidade Maravilhosa”, composta por André Filho, gravada originalmente por ela em 1934, e que se tornaria posteriormente o Hino Oficial da Cidade do Rio de Janeiro?
RK- Dizia que foi uma pena “Cidade Maravilhosa” não ter ganho o concurso de músicas para o carnaval de 1935 promovido pela Prefeitura do Rio de Janeiro (ficou com a segunda colocação), mas que o próprio autor, André Filho, disse lhe na época que não era para a Aurora ficar triste, profetizando que Cidade Maravilhosa não havia ganho o concurso, mas que ficaria eterna. E ficou!
Hugo - Lembra de algum fato engraçado ou pitoresco presenciado em companhia dela?
RK- Sim, lembro. Ela estava cantando uma música da Carmen em uma de suas apresentações, e de repente esqueceu da letra! Ai ela surgiu com essa: Gente, a música saiu ontem e ainda não deu tempo para decorá-la! (Risos).
Rara imagem de Carmen Miranda com os cabelos soltos. |
Hugo - Você mantém contato com outros colecionadores?
RK- Sim, com alguns! O Doni Sacramento e o meu querido amigo Alberto Camareiro. Os demais que eu gostava muito, infelizmente já faleceram. Hugo Giovanelli, Roberto Luiz Braga, Erick Barreto, Cassio Emmanuel Barsante, entre outros. Adoro falar sobre Carmen, trocar idéias com outros fãs, colecionadores, ou mesmo curiosos em saber mais sobre a obra da cantora. Por isso, aproveito para deixar meu telefone a disposição para quaisquer esclarecimentos, ou mesmo para trocar uma idéia com outros admiradores de Carmen. (11) 9831-2079
Olá.Adorei a materia parabéns.
ResponderExcluirAdorei sua matéria.Sou enfermeira cuidei da dona Emilia (mãe de Carmem) Na Clinica Dr Eugênio da Silva Carmo,em copacabana+ ou- nos anos 68,se ñ me falha a memória
ResponderExcluirabraços carinhosos
Marlenne
marlenne.pcosta@hotmail.com
Olá me chamo Herick Braga sou fã de Carmen Miranda, vi um comentário seu datado do ano de 2011, no mesmo você dizia que que era enfermeira e cuidou da Mãe de Carmen na clinica Dr Eugênio da Silva Carmo,em copacabana, e Gostaria de saber mais sobre sua História cuidando da Mãe de Carmen Miranda.
ExcluirQuerido Huguinho!
ResponderExcluirCaramba!Que reportagem fantástica!Adorei!
Parabéns pelo contexto em si,muito bom!!
Obrigada por ter me enviado esta bela entrevista!
Vc é dez!
Bjs.
Martha Mary
martha.irakitan@hotmail.com
que maravilha Roberto , obrigada por compartilhar seu amor, conhecimento e acêrvo! grande abraço
ResponderExcluirMarisa Sarmento
Adorei muito interessante a vida e obra de Carmem Miranda. Parabéns RK.em 18-06-2017. NoemiFabi
ResponderExcluirGostei muito da história de Carmen Miranda . Obrigada a esse fã por proporcionar momentos agradáveis com a história de tão fascinante. Família Miranda marcou a história dos brasileiros para SEMPRE representando nossa cultura no exterior. Samba que era vista como cultura dos negros e do Morro. Muito orgulhoso dessa portuguesa que assumiu ser brasileira e fez bonito.. Pena que a história pontua muito a vida das irmãs Miranda mas muito pouco sobre os irmãos " Mario" e
ResponderExcluirOscar