sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O Fascinante Universo dos Discos de Vinil: Joaquim Cutrim


O Fascinante Universo dos Discos de Vinil
Joaquim Cutrim
                                                          Por: Hugo Kochenborger da Rosa*
Insert Cultural conversa com o Dr. Joaquim Cutrim, que além de emérito operador do Direito, é de quebra um grande expoente no estudo da audiologia. Nesse certame, diga-se de passagem, Cutrim  é considerado um dos “papas” em termos de Brasil.  Quando o assunto é a defesa  técnico-científica bem articulada  e embasada dos discos de vinil e o som analógico de um modo geral, Joaquim, que é morador da cidade de Niterói, no RJ, é o cara certo a ser convidado  à “tribuna” para se manifestar!!
HUGO - Desde quando você é apreciador do som analógico?
JOAQUIM CUTRIM (JC) -  Desde os doze anos de idade. Tenho ainda meus primeiros compactos simples e duplos e o primeiro LP, uma coletânea chamada “Top 12 USA”.
HUGO - Como surgiu o interesse pelo estudo da audiologia?
JC - Surgiu quando eu li um texto em um site português na Internet que fazia uma comparação entre o CD e o vinil. A partir daí fiquei absurdamente indignado com o que chamei de “farsa do CD”, quando imediatamente encaminhei via e-mail para todos meus contatos o referido texto com o título acima, passando então a fazer pesquisas que culminaram no surgimento do meu primeiro blog, que foi o Vinil Na Veia, cujo objetivo era alertar o público da “enganação” que todos havíamos sofrido; inclusive eu; que vendi minhas coleções em vinil a preço barato, para desocupar espaço, acreditando que aquela mídia que estava sendo anunciada era realmente um substituto do disco de vinil.  Por sorte, mantive algumas coleções e uns vinis de valor afetivo muito grande. Foi o que me salvou. Pesquisei em vários sites brasileiros e vi que não havia nenhuma pesquisa completa sobre o assunto; partindo assim para os sites estrangeiros, onde entre 2005 e 2006 encontrei muita informação de credibilidade. Feito o blog, iniciei o que chamei de verdadeira cruzada contra a farsa da indústria e em favor de ressuscitar a honra tecnológica do vinil. Participei de várias discussões na Internet e concedi sete entrevistas. Mais tarde, também descobri a parte artística do vinil, no que se referia à qualidade gráfica e aos textos culturais; pois até então não valorizava isso.
HUGO - Técnicamente falando, no que difere a sonoridade dos LP’s e dos CD´s?
JC-  O LP ou disco de vinil, tem um som mais acústico, o que significa mais natural. Exemplo: Compare um som de um teclado regulado para tocar como um piano com um piano de verdade: Isso, você agora me compreende. O som do vinil é mais “emadeirado”, mais aveludado; seus graves tem um “attack” mais prolongado, vale dizer, seu grave permanece mais tempo no ambiente.  As notas médias e agudas não são tão altas como no CD, o que evita a fadiga auditiva. Não confundir altura com extensão de freqüência, onde o vinil supera qualquer mídia digital, já que possui sons ultra-sônicos, que não são “ouvidos”, mas são percebidos e eles é que dão “corpo” a todos os harmônicos das notas que compõem a música. Em números, um disco de vinil na reprodução apresenta um espectro de freqüências que vai de 20hz até muito mais de 48 kHz, indo até 100 kHz ou mais em certos transientes de freqüência. (Embora o padrão de gravação seja de 20 hz até 48 kHz). Seu sinal não é fragmentado pela digitalização de 0 e 1 e nem é limitado pela impossibilidade de criação de algoritmos para criar esses transientes num CD e para dar-lhe uma amostragem quase infinita, como a aproximar-se da integralidade do registro feito num sulco de um vinil, que é inteiro e não repartido. Já um CD leva um corte em 2.050 Khz e tudo que passa disso, é jogado "no lixo". E isso que passa é importante para a formação dos harmônicos das notas. Mas não é só o corte em 2.050 Khz para o CD ou 48 kHz para o SACD e outras mídias que só tocam via Codec: É também a perfeição dessas freqüências; pois no vinil elas são perfeitas por serem registradas analogicamente, ao passo que num disco digital, elas são registradas imperfeitamente, em função da digitalização não poder armazenar informações de números “quebrados”; somente inteiros, como 1, 2, 4, 10, 25 milivolts e assim por diante. A digitalização não armazena valores como 1,54; 2,31; 4,78; 10,05 e 25,98 milivolts, por exemplo. E isso é essencial na hora da reprodução. O processo analógico da gravação de um vinil apenas transforma, não cria, não recria, não interfere na obra original. Apenas transforma energia mecânica em elétrica e depois em mecânica de novo para que possamos ouvir. Já o processo digital de criação de um CD, este cria, porque para criar coisa nova é preciso destruir a antiga. E o antigo, no caso, é justamente o sinal elétrico sonoro original.
HUGO - Quando do aparecimento do CD no Brasil em 1987, cuja imagem foi vendida ao público pela grande imprensa e indústria fonográfica e eletrônica em geral como sendo a “mídia mágica e perfeita com máxima qualidade, som puro, livre de estalos e chiados e que mesmo sendo submetido aos piores tratos, não sofreria sequer um arranhão”, você chegou em algum momento a aceitá-la como ponto pacífico, ou desde o começo, já divergia dessa tese?
JC- Aceitei como ponto pacífico, pois confiava muito na honestidade da indústria do áudio até 2004, com poucas exceções em relação a essa confiança absoluta, pois já era técnico em eletrônica em 1982 quando já construía caixas acústicas profissionalmente para residências e boates. Ou seja, fui tão ingênuo como a maioria. somente mais tarde, com pesquisas apuradas e que pude ver as falhas do disco digital e do seu tocador, no que dizia respeito à qualidade sonora, já que pureza de som não é o mesmo que qualidade de som.
HUGO - O peso de um disco de vinil (Gramatura), realmente influencia na sonoridade do mesmo?
JC -  Influencia, mas não é condição absoluta para isso. Um disco de vinil mais pesado significa um disco mais imune ao que se chama de fenômeno da ressonância de cancelamento. Peso, em física, chama-se massa. E ela tem efeitos determinantes na inércia molecular. A inércia, para mais ou para menos vai funcionar como um pára-choque para barrar essa ressonância indesejada. Não se pode reduzir a questão somente a tamanho e profundidade de sulco, como querem. É correto dizer-se que um sulco de um disco de vinil de 180g é do mesmo tamanho de um disco de vinil de 140g? Sim. Mas a questão não estaciona por aí. Isso é física estática. Mas onde fica a física dinâmica? Onde ela fica posta na questão? Na vibração. Exatamente; na mecânica vibracional. Esse efeito relaciona-se com a qualidade do som final de um vinil. Em suma, quanto mais massa tem um vinil, mais imune a efeitos que lhe retirem a pureza de seu som. Mas é importante ressaltar que se forem tomados os devidos cuidados e seguidas as regras de instalação de um toca-discos no ambiente, um disco de menor gramatura tocará tão bem quanto um de maior gramatura. Ou seja; o de maior gramatura resiste mais aos nossos erros.
HUGO - Quais as dicas que você daria para quem está iniciando agora sua coleção de discos?
JC - Em primeiro lugar, lave seus vinis recém adquiridos, tanto os novos como os usados. Os novos podem vir com o lubrificante da prensa. Ele tem que ser retirado. A temperatura ideal é de 28°. O máximo recomendável são 35ºC. Abaixo de 10°, cautela. Evite o armazenamento na diagonal em lotes grandes, pois força o último vinil. Evite pegar o vinil com mãos sujas, óbvio. Poeira deve ser evitada. Prateleiras sempre ao ar livre, boa ventilação e boa entrada de luz. Mas se tiver animais que possam danificar os vinis, ponha portas, tampas e abra-as de vez em quando. Evite guardar o vinil sem plástico interno e externo, que protege bem a capa artística de um vinil. Nunca deixe o sol atingir um disco de vinil. Deteriora-o, como qualquer plástico, pela ação dos raios UVA e UVB e pode empená-lo. Mantenha-os sempre na sombra. E saiba, desde já que a água corrente quando você está lavando o vinil com os pés no chão você automaticamente já descarregou via seu corpo toda e qualquer energia estática dele. 

HUGO - O que o ouvinte médio precisa em termos de equipamentos para poder subtrair uma boa qualidade na audição de seus Long Plays?
JC - Um bom toca-discos com uma boa cápsula instalada nele; bem ajustado e instalado no ambiente. Um amplificador com uma boa banda de resposta de freqüência, ou seja, de 20 Hz a mais de 48 kHz; um bom par de caixas acústicas e vinis criteriosamente bem lavados e cuidados. A observação fica no sentido de que, para uma audição de graves abaixo de e 80 hertz faz-se necessário o uso de caixas acústicas com alto falantes de no mínimo 10 ou 12 polegadas; podendo chegar ao ideal de 15 a 18 polegadas; lembrando que cada alto-falante deste interfere no tamanho da caixa; o que será a uma questão de escolha pessoal. A caixa acústica deve ter divisor de freqüência de no mínimo, três canais.
HUGO - Em que pé anda a indústria do disco de vinil no Brasil, e no exterior no momento?
JC - Segundo a Official Charts Company, em 2011, as vendas de discos de vinil tiveram um aumento de 40%, ou seja; 240 mil discos vendidos, em relação a 2010, onde foram vendidos 234 mil discos. É o melhor resultado em seis anos. Inclusive ultrapassou a previsão da Nielsen Soundscan, que era de 25%. O disco de vinil é o formato que mais cresce em número de vendas.
HUGO - Em rápidas palavras, qual seria o procedimento correto para a limpeza de um disco de vinil? E para quem coleciona os antigos 78 RPM a regra seria a mesma?
JC - Compre um detergente de qualidade e algodão hidrófilo, aquele algodão medicinal. Dilua o detergente em água de boa qualidade, na proporção de 7 ml de detergente para 200 ml de água (Uma tampinha de refrigerante cheia de detergente para um copo comum, cheio d’agua). Se sua água não é boa, use a de degelo de geladeira, desde que o gelo esteja livre de gorduras e outras sujeiras). Se você não tiver o tapa-selos (Veja como utilizar o kit em meu blog), cuidado para não molhar muito o selo. Deixe a água cair em cima do vinil e vá girando-o; vire para o lado B. Passe o algodão embebido na solução de água com detergente. Depois retire com a mesma água de torneira todo o detergente espalhado, lavando bastante até você tocá-lo com os dedos junto à água corrente e verificado que seus dedos estão travando, ou seja, que o detergente já saiu todo da superfície. Ponha o vinil para escorrer em um escorredor de pratos de plástico. Deixe a ventilação interna de sua casa secar o vinil. Não o enxugue com panos. No máximo absorva os pingos restantes com guardanapo de papel, tocando-os. Esse procedimento é o mesmo para discos de vinil ou shellac, não importando a rotação, se 78 RPM ou não.
HUGO - Qual seria o modo correto para a armazenagem de grandes quantidades de discos de vinil?
JC-  Em uma estante ocupando paredes inteiras, usando madeira anti-cupim ou ferro, ou feitas de alvenaria. Devem ser guardados em lotes de 10 a 12, cada um em seu próprio escaninho, uma espécie de repartição na estante. Não importa o tamanho da estante. A ordem alfabética é ideal para quantidades acima de mil vinis. Se são muitos mesmo, o ideal é um quarto adaptado para isso, com temperatura e umidade do ar controladas. Um condicionador de ar é bom para retirar o excesso de umidade, que deve estar em torno de 40 a 50%, a uma temperatura ideal de 25°. O limite entre o mínimo e máximo deve estar entre 10° e 35°
HUGO - E o mp3, e demais formatos de compressão de amostragem de áudio, como se enquadraria no contexto de qualidade de som?
JC- O mp3 retira mais qualidade de som do que o CD já retira, como falei anteriormente. Por exemplo: Faz com que a voz de um coralista seja idêntica a de um outro quando essa diferença é sutil. Isto: Tira todas as sutilezas e detalhismos de uma música; retira sons existentes no momento em que a banda tocou e há uma perda muito grande na dinâmica sonora, que é o atributo de você destacar o som de um instrumento de outro e deles, a voz ou as vozes.
HUGO - Enquanto colecionador de discos, quais seus gêneros musicais e artistas favoritos?
JC- Não tenho um gênero musical definido, pois não gosto de "me pôr cercas". Gosto de movimentar-me livremente na arte de acordo com meu sentir, dizendo um não ao academicismo. Até passo a gostar de ritmos, arranjos e harmonias que antes não gostava. Em relação a artistas, gosto de muita gente, a lista é grande; não daria para colocar nessa entrevista e, como colecionador de algo já em torno de 1000 vinis, por enquanto; enumero o possível: No momento, estou apreciando muito:  Françoise Hardy, Élodie Frégé, Joss Stone, Gigliola Cinqüetti, Paula Fernandes,  Lucie Bernardoni, Georges Brassens,  Jacques Brel, Carlene Davis, Fagner, Luiz Gonzaga, Simone,  Joana, Maria Bethânia, Maria Rita, Elis Regina, Maysa,  Zé Ramalho, Caetano Veloso, Gil, Benito Di Paula, Fafá de Belém, Fernanda Brum, Eyshila,  Alcione, Clara Nunes, Nara Leão, Tim Maia, Gal Costa, Maria Creuza, Raul Seixas, Ney Mato Grosso, Ed Motta, Cartola, Roberto Carlos, Marina, Nelson Gonçalves,  Altemar Dutra, Papete, Celso Reis, Ubiratan, música erudita em geral; eruditos solistas como Maria Lívia São Marcos, Rafael Rabelo, Turíbio Santos, Pacco de Lucia e ainda um passado internacional glorioso, como Led Zeppelin,  Guns ´N’ Roses, Sandra Cretu,  Donna Summer,  Cindy Lauper, Carly Simon, Debbie Gibson, Madonna, Coldplay, Rolling Stones, sem, esgotar esta lista.

Circulou  no caderno de cultura "Blitz" da rede de radios e jornais Diário da Manhã, encartado em comum  nos jornais de Passo Fundo, Carazinho e Erechim (RS), em 16.12.2011
*Todos os direitos reservados pelo autor. Proibida a reprodução total ou parcial deste artigo, sem prévia autorização do titular.,

3 comentários:

  1. cara..depois que começei a ouvir discos,perçebi coisas que não simplesmente ouvia e sentia msm,na vibração sonora,em outro formato,que nem no mp3,sendo que no vinil,o som nem precisa ser ''alto'' para que você já perçeba que o som esta passando por uma curvatura de frequencia diferente,as musicas que ouvia antes,agora no vinil a uma ''aura'' sonora que envonve essas canções,de uma forma mais candida,otima entrevista.

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  2. Valeu Fernando!! E o Joaquim explica de modo "didático" o cientificismo que envolve essas maravilhosas "sensações" que todos nós temos, e que somente a audição de uma música em vinil pode proporcionar. Fico muito contente que tenha gostado da entrevista. Abração!!

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  3. Eu fui outro que cai no conto do cd....e o pior, nem vender os meus lps eu vendi, eu os dei para um sebo mesmo. Depois de um tempo, tive que começar a comprar tudo de novo. E até hoje me faltam discos que nunca mais achei.

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