sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Os 30 Anos Sem Elis Regina..


Os 30 anos sem Elis Regina
                                                                                      Por: Hugo Kochenborger da Rosa

19 de janeiro de 1982 poderia ter sido apenas mais um dia como outro qualquer na vida dos brasileiros, não fosse por um fato que abalaria para sempre os rumos da MPB.  Naquela manhã, faleceria precocemente Elis Regina de Carvalho Costa, considerada por muitos críticos como “A Melhor Cantora do Brasil”.  Elis tinha então,  somente 36 anos de idade.

Você diz que depois dela, não apareceu mais ninguém..
Os 36 anos bem vividos de Elis Regina, contudo, foram suficientes para que a cantora deixasse um incrível legado, que até sua morte somava  27 Lp’s, 14 compactos simples e seis duplos, totalizando 24.000 cópias vendidas.  Dias após uma autópsia revelaria:  A  causa mortis atestada teria sido uma nefasta combinação de uísque  e cocaína. A bebida alcoólica teria sido o elemento responsável pela potencialização dos efeitos da droga no organismo da cantora,  levando-a ao óbito.
Elis Regina não era, paradoxalmente ao  que muitos apressada e injustamente  concluíram na época, uma usuária inveterada de drogas. Pelo contrário: A droga teria sido introduzida em sua vida no início de 1981, ou seja, apenas um ano antes, quando Elis esteve em viagem aos EUA, onde tratava  sobre a gravação de um disco com o saxofonista Wayne Shorter.   Antes disso, a cantora, quando muito  bebia uma cervejinha misturada com vodka.. Talvez a pouca intimidade da  “Pimentinha” (como era conhecida por seu temperamento forte), com as drogas, tenha justamente sido o principal agente disparador da fatídica claquete da cena final de sua vida...

Nada Será Como Antes..
Nascida em Porto Alegre, no dia 17 de março de 1945, Elis Regina desde pequena gostava muito de escutar o velho rádio da familia. Adorava ouvir  Ângela Maria, Marlene, Dalva de Oliveira e outros cartazes da “Era de Ouro do Rádio”.  Sobretudo Ângela Maria, seria  forte influência  para a  formação artística da futura cantora.
Foi revelada no Clube do Guri,  programa apresentado pelo Radialista  Ary Rego na Rádio Farroupilha de Porto Alegre, ao vencer um concurso de melhor cantor/cantora mirim, em 1958.
Chegou  a gravar um compacto simples. Seu enorme talento e as dificuldades  de perseguir o sucesso nacional vivendo no Rio Grande do Sul ,porém, fizeram com que a jovem Elis, com o passar dos anos resolvesse alçar vôos maiores, indo morar inicialmente no Rio de Janeiro (1961), ocasião em que gravaria também seu primeiro LP “Viva a Brotolândia”. Em 1964 muda-se para   São Paulo,  onde permaneceria até o fim da vida.

Vivendo e Aprendendo a Jogar..
Lançada pela gravadora Continental como uma espécie de nova “Celly Campello”, inicialmente Elis não teria grande destaque.  A consagração popular só aconteceria  ao defender a música Arrastão (Vinicius de Moraes/Edu Lobo), no 1º Festival de MPB da TV Excelsior, em 1965, mudando radicalmente de estilo e podendo finalmente demonstrar a que veio.   

 Assina nesse mesmo ano com a CBD/Philips,   e lança seu primeiro álbum  por aquela etiqueta “Samba eu Canto Assim”.  Nessa companhia discográfica, Elis permaneceria a maior parte de sua carreira, passando ainda pela WEA, EMI ODEON, e por último, Som Livre, para a qual registrou aquela que seria sua última gravação:  “Me Deixas Louca”, versão de Paulo Coelho para a  música de Armando Manzanero,  “Me Vuelves Loco”.  Tal sessão de gravação  foi feita para a Som Livre, sob encomenda da Rede Globo, especialmente para integrar a trilha sonora da novela das 8 da época: “Brilhante”, de Gilberto Braga.

 
Última aparição de Elis na TV (Bandeirantes) (Dezembro de 1981)

                    Elis homenageada no último capítulo da novela Brilhante (Rede Globo) (1982)
Arrastão..
Em sua carreira de resplandecente brilho, Elis ajudou a trazer à luz do conhecimento do grande público, vários compositores  que se revelariam notáveis para a MPB, como:  Belchior, a dupla João Bosco e Aldir Blanc, Renato Teixeira, Milton Nascimento, Tavito, Zé Rodrix, entre vários outros.
Alguns dos Sucessos da cantora:
Arrastão (1965), Canção do Sal (1966), Upa, Neguinho (1968), Madalena (1971), Atrás da Porta (1972), Casa No Campo (1972), É Com esse que eu Vou (1973),   Águas de Março *com Tom Jobim*(1974),  O Mestre Sala dos Mares (1974), Como Nossos Pais (1976), Fascinação (1976), Romaria (1977), O Bêbado e a Equilibrista (1979), Alô, Alô Marciano (1980), Aprendendo a Jogar (1980) e Me Deixas Louca (1981).

Fascinação...
No trigésimo ano de sua ausência física, Elis Regina continua mais viva do que nunca na memória dos fãs, com sua arte rara imortalizada nos sulcos dos discos, na pista magnética das fitas , nos sinais óptico-digitais dos Cd’s e sobretudo na mente e corações de seus milhares de admiradores espalhados pelo mundo.  A propósito:  Para muitos ela continua sendo a melhor cantora do Brasil....

·         Curiosidade: Elis foi a primeira pessoa a ter inscrita sua própria voz como “instrumento” na Ordem dos Músicos do Brasil.

Discografia

Discos em estúdio:
1961 - Viva a Brotolândia
1962 - Poema de Amor
1963 - Elis Regina
1963 - O Bem do Amor
1965 - Samba - Eu Canto Assim
1966 - Elis
1969 - Elis - Como e Porque
1970 - Em Pleno Verão
1971 - Ela
1972 - Elis
1973 - Elis
1974 - Elis & Tom (com Antônio Carlos Jobim)
1974 - Elis
1976 - Falso Brilhante
1977 - Elis
1979 - Essa Mulher
1980 - Saudade do Brasil
1980 - Elis

Discos ao vivo:

1965 - Dois na Bossa (com Jair Rodrigues)
1965 - O Fino do Fino (com Zimbo Trio)
1966 - Dois na Bossa nº 2 (com Jair Rodrigues)
1967 - Dois na Bossa nº 3 (com Jair Rodrigues)
1970 - Elis no Teatro da Praia
1978 - Transversal do Tempo

Compactos simples:

1961 - Dá Sorte / Sonhando
1961 - Dor de Cotovelo / Samba Feito pra Mim
1962 - Poporó Popó / Nos teus Lábios
1962 - A Virgem de Macarena / 1, 2, 3 Balançou
1965 - Menino das Laranjas / Sou sem Paz
1965 - Arrastão / Aleluia
1965 - Zambi / Esse Mundo É Meu / Resolução
1966 - Canto de Ossanha / Rosa Morena
1966 - Ensaio Geral / Jogo de Roda
1966 - Upa, Neguinho / Tristeza que se Foi
1966 - Saveiros / Canto Triste
1967 - Travessia / Manifesto
1968 - Yê-melê / Upa, Neguinho
1968 - Samba da Benção / Canção do Sal
1968 - Lapinha / Cruz de Cinza, Cruz de Sal
1969 - Casa Forte / Memórias de Marta Saré
1969 - Tabelinha Elis x Pelé (Perdão Não Tem / Vexamão) Elis cantando duas músicas de Pelé
1972 - Águas de Março / Entrudo
1972 - Águas de Março / Cais
1979 - O Bêbado e a Equilibrista / As Aparências Enganam
1980 - Moda de Sangue / O Primeiro Jornal
1980 - Alô, Alô Marciano / No Céu da Vibração
1980 - Se Eu Quiser Falar com Deus / O Trem Azul

Compactos duplos:

1966 - Menino das Laranjas / Último Canto / Preciso Aprender a Ser Só / João Valentão
1966 - Pout-Porri de Samba / Sem Deus, com a Família / Ué
1966 - Saveiros / Jogo de Roda / Ensaio Geral / Canto Triste
1968 - Deixa / A Noite do meu Bem / Noite dos Mascarados / Tristeza
1969 - Andança / Samba da Pergunta / O Sonho / Giro
1970 - Madalena / Fechado pra Balanço / Falei e Disse / Vou Deitar e Rolar
1971 - Nada Será como Antes / A Fia de Chico Brito / Osanah / Casa no Campo
1972 - Águas de Março / Atrás da Porta / Bala com Bala / Vida de Bailarina
1975 - Dois pra lá, Dois pra Cá / O Mestre-sala dos Mares / Amor até o Fim / Na Batucada da Vida
1976 - Como Nossos Pais / Um Por Todos / Fascinação / Velha Roupa Colorida


Circulou  no caderno de cultura "Blitz" da rede de radios e jornais Diário da Manhã, encartado em comum  nos jornais de Passo Fundo, Carazinho e Erechim (RS), em 27.01.2012
*Todos os direitos reservados pelo autor. Proibida a reprodução total ou parcial deste artigo, sem prévia autorização do titular.,


2 comentários:

  1. Belíssima matéria, Huguinhu! Só queria fazer duas correções:

    - Elis nasceu em 1945, e não em 1946;
    - Seu primeiro long-play, "Viva a Brotolândia", foi lançado em 1960. Porém, é de 1959 a primeira gravação, o 78 RPM com "Dá Sorte".

    Elis hoje permanece mais viva do que nunca em nossos corações. E a sua voz e musicalidade únicas aquecem, cada vez mais, os nossos ouvidos, carentes de uma intérprete com tamanha riqueza e profundidade como só ela soube fazer.

    Parabéns, meu amigo!

    Abraços.

    Raimundo Gilson
    (somforadecatalogo.blogspot.com)

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  2. Obrigado, meu querido amigo!
    A data foi extraída de uma publicação da época da morte de Elis. Realmente não me orientei de que essa informação pudesse estar incorreta.
    Quanto ao 78 RPM, hoje em dia é normal denominá-lo de "compacto", afinal sua finalidade é a mesma. Um suporte analógico com duas músicas, uma de cada lado. Acontece que muitas pessoas não sabem nem o que é um compacto, que dirá um 78 RPM rss.. então.. poderia dizer que "simplifiquei a equação"
    Muito obrigado por sua participação e a recíproca é verdadeira. Fico feliz em saber que Salvador tem um lente de lingua portuguesa que ama tanto o que faz e que instrumentaliza seus alunos utilizando-se de um dos bens culturais mais preciosos que possuimos. Nossa MPB! Parabéns a você.

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